terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Atividade Módulo 3 - Ciclo 3 - Corpos Mutantes

Corpos Mutantes
COUTO Edvaldo Souza (Org.); GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
Artigo 1: Corpo Cyborg e o dispositivo das novas tecnologias
Homero Luís Alves de Lima

http://www.freakingnews.com/Cyborg-Barack-Obama-Pictures-31152.asp
Esse artigo propõe uma reflexão crítica em torno da “aceleração tecnológica”, as evoluções e mutações tecnológicas sofridas pelo corpo humano, induzidas por uma aceleração tecnológica, que através da Bioengenharia, a Robótica e a Inteligência Artificial tentam desenvolver máquinas cada vez mais inteligentes, dando maior destaque às características humanas e robôs cada vez mais sentimentais (o que nos retrata ao filme Inteligência Artificial (http://www.youtube.com/watch?v=VHubtipBHS8&feature=related), onde a busca por um robô perfeito, com sentimentos humanos é o grande objetivo da Ciência).
A vida passa a ter a possibilidade de ser produzida em laboratório e são introduzidas técnicas de tratamento (nanotecnologia), que criam maiores perspectivas de sobrevivência e cura para os humanos. Uma medicina está a favor da medicina, proporcionando comodidade, conforto, segurança e praticidade. Cirurgias mais rápidas e sem dor, promovendo melhoras na saúde e estética. A máquina se especializa e o corpo é o seu maior e principal instrumento: os mistérios guardados e as curiosidades que desperta o corpo humano, sendo possível de constantes atualizações – “digitalização da vida”: sistemas orgânicos e informacionais passam a ser explicados em linguagem idêntica. Lima destaca a transgressão entre os limites que diferenciam o corpo da máquina - o humano-tecnológico: Cyborg (seres em constante processo de reconfiguração). Os ciborgues estão em toda a parte, nas formas de implantes, próteses ou medicamentos. Traz ainda, as concepções de Ciborgue defendidos por Plant (1995), que reconhece neste ser, a possibilidade de construção de novas sexualidades e por Donna Haraway que reconhece o ciborgue como um organismo híbrido de máquina e organismo, com realidade social e ficção. É a cultura high-tech, que contesta qualquer dualismo, além do de gêneros. O desenvolvimento tecnológico permite ao corpo humano, transgredir a pele. Mostra as suas possibilidades de transformação aproximando o homem dos seus desejos de realização corporais.

Artigo 2: Uma estética para corpos mutantes
Edvaldo Souza Couto
Neste artigo, Couto destaca a preocupação com a estética do corpo humano que se caracteriza fundamentalmente por trazer em si mesmo, o inacabado. Motivados pela moda ou concepções de perfeição ditados, principalmente pelos meios midiáticos, as mudanças e correções corporais são constantes. As referências são reelaboradas, o prazer e a satisfação passam a ser instantâneos. As novas tecnologias surgem como potencializadoras dessas necessidades, impulsionadas pelo consumismo capitalista.
Com a incidência das tecnologias sobre o corpo humano, há uma desvinculação desse corpo de questões culturais e genéticas. Couto traz a questão do corpo-espetáculo, expondo a busca incessante pela manutenção da juventude (ao menos aparente) numa desvinculação progressiva de vínculos. O culto ao corpo como um estilo de vida, vida tecnocientífica. A luta para não se tornar absoleto, deve ser constantemente turbinado, inclusive para demonstrar que a velhice está sob seu controle. Os ciborgues são um meio de atender a essa demanda. Atendem ao desejo de superpoderes que as próteses concedem, propoprcionando corpos jovens e saudáveis. Nessa linha, segue a substituição da alimentação natural pela tecnológica. É a robótica e a engenharia genética trabalhando juntas para a produção artificial do homem.
A produção artificial do homem vai além da produção hollyoodiana, do acesso fácil a órgãos por exemplo, mas da troca e recomposição parcial do corpo com certificado de garantia. Cita as novas revoluções da engenharia de tecidos que utilizam as células tronco como matéria-prima e as discussões em torno da sua legalização. Inovações e descobertas que prometem mais segurança e longevidade. Couto destaca a exaltação à mutabilidade corporal como a característica primordial do sujeito na Cibercultura. Um sujeito que tem o corpo disponível à Biotecnologia, à economia de mercado e objeto de consumo do capitalismo avançado. E confirma: “...nunca o uso do corpo humano como mercadoria foi tão intenso e evidente”. Um mercado, que como os demais, selecionam consumidores: “Populações pobres servem de armazéns vivos para as populações ricas”. E o consumismo também se mantém, pois é necessário manter-se conectado aos designs sociais mais valorizados. “O consumidor (...) é comprado e vendido. A vida passou a ser definida como mercadoria.”
Na busca incessante pelo não envelhecimento, o sujeito passa a envelhecer distante do que a evolução natural pretende. E quem envelhece naturalmente, é naturalmente, absoleto! Não apenas pela forma corporal pronta para as reciclagens, mas pela resistência a esses ideais de mutações sucessivas “indispensáveis”. Retrata a existência de uma democracia do corpo, onde todos podem (para sentirem-se aceitos), tornar-se seres mutantes, mutáveis.

Artigo 3: Os percursos do corpo na cultura contemporânea
Malu Fontes

 
http://www.bing.com/images/search?q=imagem+corpo+feminino&qpvt=imagem+corpo+feminino&FORM=IGRE
Este artigo, traz as impressões da autora Malu Fontes sobre a canonização do corpo no século XX. Malu fontes é Jornalista, Professora Adjunta da Universidade Federal da Bahia (Faculdade de Comunicação), aborda a exaltação do corpo, em especial o feminino (pois a considera mais vulnerável às mensagens publicitárias), que com o investimento em práticas e diversos artifícios, promete o alcance da forma corpórea ideal desejável. E para isso, os meios midiáticos exploram essa corporeidade feminina, despertando em seu público a necessidade de se tornar mais jovem, ter corpos mais viçosos – o corpo Canônico! Importante destacar que essa publicidade torna uma classe social desfavorecida, refém de cirurgiões e clínicas que se quer tem preparo legal para realizar a tão sonhada forma física. Formam mutações do que realmente serial o ideal desejável. Fonte considera, no entanto, que essa canonização nunca será universal, pois trata de cultura e conceitos estabelecidos em sociedades distintas e que irão influenciar essa construção. As influências não são locais e, feita a mutação, pode-se atingir um corpo para si canônico, mas socialmente questionável. Fontes trata ainda, a questão da visibilidade que as mulheres deficientes físicas têm nesse cenário de canonização, em que sua condição física, além do seu corpo estão socialmente dissonantes. Nesta análise, o culto ao corpo que era demonizado, passa a ser adorado, pois torna-se uma fonte substancial de capital para o capitalismo moderno. Há uma mudança na relação do indivíduo com o próprio corpo após a segunda metade do séc. XX, que culminam com a mudança de paradigmas (perde o caráter de verdades absolutas) e os valores tornam-se mais urgentes e definem a cultura contemporânea. Os meios tradicionais de afirmação das identidades: religião, família, escola, política se fragilizam. O homem é cada vez mais estimulado a cultuar o próprio corpo, o que Gilles Lipovetsky chama de individualismo contemporâneo, caracterizado por uma nova forma de sociabilidade. O valor fundamental passa a ser o da realização pessoal. A corpolatria, como cita Fontes, o prazer é a finalidade da vida, e só tem a somar com o capitalismo do consumo. Um corpo que representa a forma puramente, sem preocupar-se com o conteúdo. Uma saúde aparente que apresenta o corpo espetáculo! Em nossa vida diária podemos observar esse culto ao corpo e ao consumo para pavonear cada vez mais e se exibe pelos espelhos dos shoppings, academias, salões de beleza... Num projeto de autoconstrução de um corpo canônico, o ser humano, nega os efeitos do tempo e a sua condição biológica. A mídia faz a sua parte: seduz todas as classes sociais e as classifica no projeto de autoconstrução, pelo poder aquisitivo de cada indivíduo. Fontes chama atenção para o conceito do corpo canônico que, antes da beleza física, “...é um corpo construído a partir de um conjunto de discursos, práticas e procedimentos de várias naturezas que visam torná-lo culturalmente adequado, capaz de atender às exigências de uma corporeidade supostamente considerada ideal”. Em contrapartida, inúmeros são os corpos ‘dissonantes’: obesos, velhos, corpos mutilados, deficientes que causam mal estar numa sociedade movida elo capital consumista e cada vez mais desumano. Isso porque o ser humano que se formou na modernidade, não se reconhece como ser biologicamente construído, mas em constantes mutações regidas por padrões sociais. ‘A integridade do corpo físico não resiste à dissolução da personalidade social’ (Kehl, 2003 in Fontes, 2007)
Artigo 4: Velhice, palavra quase proibida; terceira idade, expressão quase hegemônica
Annamaria da Rocha Jatobá Palacios

A autora aborda neste artigo, o processo de articulação que se estabelece entre os termos: Velhice e Terceira Idade, que se estabeleceu no discurso publicitário de cosméticos. Da substituição gradual do termo velhice por “Terceira Idade”, para atender à interpretação do termo “velhice” que no contexto social, tornou-se sinônimo de decadência. A velhice é evidenciada como a fase final da vida, inclusive no que se refere à socialização deste indivíduo. O apelo da publicidade em torno do estereótipo socialmente valorizado seduz o público que se considera ‘envelhecendo’ a querer controlar esse processo para manter-se incluído socialmente. Para o discurso publicitário, o termo “Terceira Idade” faz alusão a uma fase subseqüente e compreende a maturidade, não deixando transparecer a idéia de envelhecimento. A publicidade percebe a necessidade de valorizar a sensação de amadurecimento, dando ênfase à identidade construída por esse público. Pois percebe-se na pós-modernidade a mudança de valores e atitudes em torno do que se denomina ‘velhice’. Palacios destaca ainda a ideologia do progresso (que cultiva a juventude e desvaloriza a experiência) sustentada pela modernidade e pelo industrialismo, manterá o mercado aquecido em torno desse público (terceira idade), como forma de aumentar a sua influência social, cultural e política. Com o aumento da expectativa de vida global(homem 70 ano e mulher 80), chega-se à velhice com corpo e mente ativos. Forma-se um público que não busca apenas tratar-se de doenças, mas ações de autodesenvolvimento e lazer. Transformações sociais foram significativas para a mudança na estrutura etária da população. Estas transformações justificam o “Bum” das ofertas de produtos e serviços para a terceira idade. A publicidade cria e enfatiza novas formas de consumo. De acordo com Castells (1999), o mundo desenvolvido da revolução industrial, da ciência médica, da afirmação dos direitos sociais, prolongam a vida, superam doenças, controlam nascimentos. Palacios rerata a condição da publicidade, que de forma não diferenciada da evolução da sociedade, está em constante movimento, evoluindo nas suas interpretações e nas mudanças das práticas de consumo,pois tem que levar a mensagem para um público que deve conhecer. Ela transfere o público da condição de alvo pacífico a um “coenunciador”. O discurso publicitário vende a conservação da juventude, e consequentemente, o combate à velhice.


Artigo 5: Corpos amputados e protetizados: “Naturalizando” novas formas de habitar o corpo na contemporaneidade
Luciana Laureano Paiva


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Paiva trata de questões sobre o reconhecimento de um corpo que perde as características naturais construídas por modos de vida, alegrias, tristezas, dores... corpos nos quais não se tem a certeza do que é real e o que está simbolizado por próteses que otimizam a sua funcionalidade e performance. O homem adere às tecnologias de transformação do corpo e das formas de viver na sociedade. Novos conhecimentos permitem novos olhares e nada fica absoleto, a não ser que se queira. Todo corpo é passível de renovação, seu estado atual é sempre provisório, independente de quantas transformações já tenha sofrido.
A forma de consume é transferida de materiais a “formas de vida”. A materialidade corporal passa a ser habitada por esse novo indivíduo, coma as devidas substituições. Mudanças internas e externas são produzidas constantemente para manter o corpo habitável. A anatomia corporal passa a ser um acessório, uma matéria a ser lapidada, redefinida de acordo com o momento. Marcas corporais que trazem em si significados que podem ser de saúde e beleza ou doença e deficiência. O desafio posto é projetar, atualizar constantemente o corpo, através das novas tecnologias. No entanto, como comenta Paiva, citando Couto, 2003 e Le Breton, 2003: Numa sociedade onde prevalece a aparência, modificar a materialidade corporal, significa acima de tudo, modificar o olhar sobre si, o olhar dos outros, a sua identidade. As transformações passam a ser naturais aos nossos olhos, o natural é estranho, pois todos estão em busca da perfeição. Paiva traz uma reflexão muito pertinente nesse momento de exaltação do corpo: O que esta sociedade está fazendo com os nossos corpos e principalmente, o que estamos fazendo com esses corpos que nos pertencem, mas deles nos livramos? O autor, fez sua pesquisa com pessoas que sofreram algum tipo de amputação e precisaram, para inserir-se na sociedade e principalmente para devolver a funcionalidade aos seus corpos, de implantação de próteses funcionais.  Paiva traz na voz de seus entrevistados, a dor em falar dos próprios corpos, do quanto essa visibilidade os incomoda. Transmitem a sensação que a sociedade lhes transfere: de corpos amputados, portanto ociosos e ineficientes. Ao tratar a questão da norma instituída como a ideal para estruturas corporais que, implantam próteses em busca de qualidade de vida, suprindo uma falta acidental ou natural de seu corpo e que é tido como anormal, enquanto as próteses postas em corpos “perfeitos”, apenas para aperfeiçoá-los, são considerados os corpos normais, instituídos como modelos. As pessoas que tiveram seus corpos amputados tem portanto, um caminho maior  a percorrer para alcançar esse modelo corporal que, mesmo antes de sofrer a perda, não estava nem perto do modelo perfeito. Pessoas que deixam de ser parentes, amigos e tornam-se simplesmente pacientes. Tudo a favor de uma nova identidade, mas que permanece provisória, na tentativa de ser visto como um corpo saudável. Pois,como cita Sfez(1996) in Paiva, o corpo perfeito é o corpo completo e a referência do que venha a ser um corpo completo, depende da história de vida de cada um. Os corpos sob o olhar da contemporaneidade, está passível a inúmeros “consertos” que se fizerem necessários: seja pela tendência ou pela sobrevivência. O nosso corpo é a referência para formamos a nossa identidade. Por isso, ao sofrerem qualquer perda na forma original do corpo, o ser humano tende a identificá-lo como diferente. Paiva levanta ainda uma reflexão sobre o olhar do outro para o corpo amputado. O outro, que se apresenta para nós de formas diferentes em suas infinitas possibilidades de gênero, cor, raça... são as diferenças que unem os indivíduos e que fazem com que convivam em uma sociedade normatizada pelo poder social. O olhar do outro revela a nossa diferença e esse olhar inicialmente perturbador se revela mais confortável com o tempo. Segundo Ortega (2002), somos, paradoxalmente, vulneráveis ao olhar do outro, pois ao mesmo tempo em que ele nos desafia e nos instiga, precisamos de seu olhar, de sermos percebidos, senão não existimos. O corpo, visto como artefato e artifício, por criar técnicas e se dispor a criar a história destas tecnologias permitindo a penetração cada vez maior em seu território biológico. A prótese é para o corpo amputado, antes de se para o outro, o preconceito de si mesmo. Enxerga em si a diferença que sempre viu no outro. Por isso traz consigo tantas limitações e dúvidas sobre sua identidade, pois não sabe o que o outro(ao qual tenta agradar com sua aparência) pensa sobre ele. A amputação representa a morte simbólica de um estilo de vida e optando por uma prótese ou não, o desafio é aceitar viver de forma e com formas diferentes.

Memorial

Estou disponibilizando uma prévia do meu Memorial Descritivo! O mesmo já se encontra disponível no moodle.